segunda-feira, 18 de junho de 2012

"Os fins justificam os meias e as jogadas pelas pontas"

Olá amigos, hoje estava lendo um texto do blogueiro Márvio dos Anjos do globo.com e achei muito interessante, e por isso faço questão de postá-lo à vocês leitores.

O Mercenário e o Príncipe

(Imagem: globoesporte.com/corinthians)
Certos homens não entram para a história: apenas usam-na, a fim de colecionar façanhas.

São ídolos somente para si mesmos. Não criam cultos nem raízes, não foram talhados para serem adorados e, a cada gesto que os alça à glória, cometem outros que os depreciam – talvez para lembrar suas humanidades imperfeitas àqueles que se ajoelham aos seus pés.

Emerson, dito Sheik, é dessas almas. Desde 2009, é o mais letal mercenário do futebol brasileiro. Mercenário no sentido mais literal, de soldado de aluguel, sem pátria, sem bandeira, que põe sua eficiência a serviço de um soldo e de sua própria fama como mercenário.

Pistoleiro de mira certeira e caro aluguel, vestiu algumas das mais incandescentes camisas do país sem se apegar a elas. Suas missões duram 90 minutos, e não uma vida inteira. Hoje está Corinthians, como já esteve Fluminense e Flamengo. Em cada um deles legou um título nacional, seja como coadjuvante, seja como ator principal. Eficiente ele é.

Contra o Santos, pela Libertadores, flertou com o heroísmo. Perpetrou uma obra-prima, na hora exata, contra um rival engrandecedor. Teve o senso estético de reservar a beleza às partidas consagradoras.

Mas Emerson é malandro demais e se atrapalha no momento seguinte. Em suma, é gente boa, mas vacila.

Foi assim no Flamengo, jurando amor à torcida para sair no dia seguinte. Foi assim no Fluminense, ao garantir um título inesquecível contra o Guarani e cometer meses depois a inesquecível besteira de cantar músicas rubro-negras no ônibus tricolor. Que Emerson vai vacilar, é certo como a fórmula da água, considerando-se sua história e as palavras de Maquiavel sobre o mercenarismo em O Príncipe:

“(…) Se alguém tem o seu Estado apoiado nas tropas mercenárias, jamais estará firme e seguro (…). A razão disto é que elas não têm outro amor nem outra razão que as mantenha em campo, a não ser um pouco de soldo, o qual não é suficiente para fazer com que queiram morrer por ti.”

O que não se imaginava é que Emerson fosse descontar o acerto do primeiro tempo com duas bobagens já no segundo.

Uns, mais óbvios, vão se concentrar na sua expulsão, vinda de falta desajeitada em Neymar. Aqui, quase o absolvo: Tite orientou seu time a marcar os santistas, e atacantes são estabanados quando tentam um desarme. Seus dois cartões amarelos são mais provas de um raro esforço tático, incomum nos atacantes brasileiros. Ainda assim, seria possível se preservar.

O que não se perdoa é a falta de ambição no lance com Durval. Em vez de tentar o chute de misericórdia, franco e frontal a Rafael, preferiu encenar (fora da área!) um pênalti canastrão, em busca de um atalho que Marcelo de Lima Henrique não concedeu. Foi o retrato mais bem acabado da irritante Lei do Menor Esforço, e sua expulsão poderia ter sido ali. Nunca saberemos se a bola chutada entraria ou não para o segundo gol corintiano. O que sabemos é que Emerson preferiu não tentar.

O Corinthians da defesa inexpugnável precisa de atacantes, e Emerson era o melhor à disposição. Mas Emerson ainda não entende o que é ser importante para o grupo ou a torcida. Sai de cena precocemente nessas semifinais, sem dar tudo o que podia.

Vai depender dos companheiros para evitar que o vacilo se torne ainda maior.


Márvio dos Angos 14.06.2012

Link do texto original: http://globoesporte.globo.com/platb/marvio-dos-anjos/2012/06/14/o-mercenario-e-o-principe/

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